Pular para o conteúdo

“Onde Deus não é reconhecido aparece a mania egocêntrica, e desta provém a doença” jung

Escrito por: @autopoesys

A busca pela paz interior, em algum momento das nossas vidas, torna-se numa jornada a qual muito de nós sente-se impelido a trilhar. Sobretudo naquelas ocasiões em que o cansaço, as angústias e tristezas da existência pesam nossas pernas e sufocam o coração. 

Encontrar um sentido mais profundo e uma conexão com algo maior do que podemos ver, escutar, cheirar, saborear ou tocar… tem um impacto significativo em nossa saúde mental. 

Neste sentido, a espiritualidade , independentemente de nossas crenças religiosas específicas, pode ser uma ferramenta de transformação e cura para nossas enfermidades da alma.

 Neste artigo, vamos explorar pois,  a relação entre a espiritualidade e a saúde mental. A intenção é perceber como religião e ciência podem estar integradas no processo do desenvolvimento e bem-estar de cada pessoa.

Para isso, convido você a percorrer o seguinte caminho comigo:

1 O desafio de reconhecer e integrar a espiritualidade no cuidado da saúde mental

2 Espiritualidade e saúde: a força do significado das palavras

3 Como a espiritualidade pode transformar a sua saúde mental  

4 Nutrindo sua jornada espiritual: Dicas para encontrar a paz interior

5- Combinando espiritualidade com abordagens terapêuticas tradicionais

6 – Espiritualidade como autêntica dimensão do ser humano que não pode ser ignorada

O desafio de reconhecer e integrar a espiritualidade no cuidado da saúde mental

Desde os tempos imemoriais escondidos nas brumas da história, é fato que crenças, práticas e experiências religiosas/espirituais têm prevalecido e influenciado no cotidiano da maioria das sociedades. 

Entretanto, a história das religiões mostra que o reconhecimento do valor da espiritualidade para o cultivo da saúde do ser humano envolve muitas controvérsias e resistências.

Sobretudo, a partir do século XIX, quando as suspeitas levantadas por Freud sobre as práticas religiosas das pessoas, consideradas como fruto de um estado social e intelectual primitivos, trouxe uma crescente valorização das ciências médicas, como sendo as únicas fontes de cura para nosso ser doente.

Contudo, as chamas do espírito  sempre mantiveram-se acesas no íntimo das pessoas, ainda que como brasas sob as cinzas do domínio da razão. E, nas idas e voltas da ciranda da história, agora nestas primeiras décadas do novo milênio, voltam a encandecer os corações de muita gente.

Na verdade, como fala Alexander Moreira, a ideia de que religião e ciências médicas (como a psiquiatria) estiveram em  frequente e flagrante conflito é senso comum.

Na civilização ocidental, por exemplo, alguns dos principais cuidados aos portadores de sofrimento mental couberam às organizações religiosas.

Reconhecendo este laço estreito entre fé e ciência,  a OMS (Organização Mundial da Saúde), sem se limitar a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa, em 1988 incluiu a dimensão espiritual no conceito multidimensional de saúde. Entendida em termos das questões ligadas à busca de significado e sentido da vida.

Assim, parece que, como nos fala Roberto Crema, nestes tempos em que nossa espécie humana encontra-se ameaçada na sua perpetuação, em meio à agonia de um modelo racionalista, objetivista, esgotado e decadente de vida, há um despertar do paradigma transdisciplinar holístico, que busca o diálogo aberto e sinérgico entre a ciência, a filosofia, a arte e a tradição espiritual.

Nesta abordagem holística, há um princípio muito valioso que devemos considerar: não misturar, não separar, nem fusão, nem divisão, nem “um”, nem “dois”. A mescla da ciência com a religião é um erro alienante, um pseudo sincretismo degradante. Por outro lado, considerá-las na ordem do antagonismo e da exclusão conduz a outra cilada, do sectarismo e desconexão. 

É certo que a ciência tem seu próprio caminho, que é o analisar para entender. A religião também tem o seu próprio caminho, que é o simbólico, de síntese, de religação das partes. 

A rigor, uma não precisa da outra. Mas como afirmou Fritjof Capra, o ser humano necessita de ambas! 

São as duas pernas que um ser humano inteiro e íntegro necessita, para empreender uma jornada, com sentido e orientação para existência.

Espiritualidade e saúde: a força do significado das palavras

O reconhecimento da importância de integrar a espiritualidade, junto com as práticas clínicas convencionais,  no cuidado da saúde mental, fica mais evidente quando olhamos para a interessante relação de significados que há entre os termos em questão.

Em inglês, saúde é traduzida por – health

Acontece que todos os vocábulos da família semântica de health provém de höl, do germânico antigo, que é designativo de inteireza. Também refere-se ao radical grego holos, que por sua vez é raiz da palavra contemporânea, holy, sagrado no inglês moderno.

Na nossa língua portuguesa temos de igual modo a palavra são, que aparece como sinônimo de sagrado ou santo.

Ainda nesta seara do campo etimológico e semântico das palavras, Jean Yves Leloup, nos recorda que no hebraico a palavra que designa doença é mahala. Significa estar parado, dar voltas, não mais avançar.

E para sermos curados da mahala (das doenças), o Cristo, nos evangelhos nos convida a  metanoia, vale dizer, dar “um passo a mais”, um “passo além” das paixões, das emoções e dos pensamentos que nos corroem e agitam nosso interior. 

Ou seja, uma revolução espiritual. 

A saúde pela espiritualidade é, pois, esse passo a mais que cada um pode fazer, qualquer que seja o lugar onde tenha parado:

  • emocional,
  • afetivo,
  • material,
  • psíquico,
  • intelectual e até mesmo
  • espiritual.

Pela metanoia que o Evangelho nos convida a fazer, somos curados, salvos e divinizados.

Como a espiritualidade pode transformar a sua saúde mental 

Nas últimas décadas, pesquisas científicas  que confirmam esta estreita relação entre espiritualidade e saúde têm sido realizadas  e publicadas nas literaturas médicas e psicológicas.

Estas pesquisas mostram a importância da espiritualidade para a vida da maioria da população mundial, no que diz respeito a melhores indicadores de saúde mental e bem-estar, tais como:

  • Satisfação com a vida,
  • felicidade,
  • afeto positivo,
  • moral elevado,
  • melhor saúde física e mental.

Sendo entendida, de acordo com a Conferência Internacional de Consenso sobre Cuidados Espirituais na Saúde, como  a maneira como os indivíduos buscam o significado final, propósito, conexão, valor ou transcendência

os pesquisadores observam que, para  muitas pessoas, a participação numa comunidade espiritual está associada a vidas mais saudáveis, incluindo maior longevidade, menos depressão e suicídio e menos uso de substâncias. 

Para muitos pacientes, a espiritualidade é importante e influencia os principais resultados da doença, como qualidade de vida e decisões de cuidados médicos.

 Isto, pois, a espiritualidade possui uma força curativa própria. 

Não se trata de forma nenhuma de algo mágico e esotérico. Trata-se de dar atenção e fortalecer aquelas energias que são próprias da dimensão espiritual, tão válidas como a inteligência, a libido, o poder, o afeto entre outras  dimensões do ser humano. 

Estas energias são altamente positivas como:

  •  amar a vida, 
  • abrir-se ao demais, 
  • estabelecer laços de fraternidade e de solidariedade, 
  • ser capaz de perdão, de misericórdia e de indignação face às injustiças deste mundo.

Nutrindo sua jornada espiritual: Dicas para encontrar a paz interior

Por tanto, encontrar a paz e saúde mental, pelo cultivo da espiritualidade, pode ser uma jornada necessária, nestes tempos em que estamos andando por aí cheio de tudo, mas corroídos por um vazio agudo.

 Cada pessoa pode ter sua própria jornada espiritual e encontrar práticas que ressoem com sua própria experiência. No entanto, existem algumas dicas que podem ser úteis para nutrir sua jornada espiritual e encontrar a paz interior.

1) Em primeiro lugar – dedique tempo para se conectar com sua espiritualidade regularmente. Isso pode envolver reservar um tempo diário para meditar, orar, escrever reflexões ou praticar algum tipo de leitura edificante. 

Encontre práticas que funcionem para você e faça delas um compromisso regular.

2) Além disso – busque o apoio de uma comunidade espiritual ou de pessoas que compartilhem de seus interesses e valores espirituais. Isso pode fornecer um suporte emocional e uma sensação de pertencimento. 

Participar de grupos de estudo, retiros espirituais ou encontros regulares pode ser uma maneira de se conectar com outras pessoas em sua jornada espiritual.

3) Por fim – seja gentil e misericordioso consigo mesmo durante sua jornada espiritual. Reconheça que cada pessoa tem seu próprio ritmo e que nem todos os dias serão fáceis. 

Dê-se permissão para cometer erros, aprender e crescer em sua busca de desenvolvimento espiritual. A paz interior  é um processo contínuo e é importante ser paciente e compassivo consigo mesmo ao longo do caminho.

Combinando espiritualidade com abordagens terapêuticas tradicionais

A espiritualidade pode ser um auxílio poderoso às abordagens terapêuticas tradicionais. 

Muitas vezes, a terapia tradicional se concentra no aspecto cognitivo e comportamental da saúde mental, enquanto a espiritualidade aborda questões mais profundas e existenciais. 

Combinar essas abordagens pode fornecer uma visão mais holística e integrada da saúde mental.

Se você estiver buscando suporte terapêutico, considere encontrar um terapeuta que esteja aberto e disposto a explorar questões espirituais em sua prática. Um terapeuta sensível à espiritualidade pode ajudá-lo a integrar sua busca por paz interior no seu processo terapêutico.

Lembre-se de que a espiritualidade deve ser uma prática integrativa e não substitutiva das demais práticas terapêuticas no  cultivo da saúde. Pois, como visto antes, religião e ciências da saúde são as duas pernas que necessitamos para caminhar inteiros na jornada da vida, cultivando o bem-viver.

Espiritualidade como autêntica dimensão do ser humano que não pode ser ignorada

O despertar da visão holística e integrativa sobre o ser humano, que vimos presenciando ultimamente, nos ajuda a perceber a espiritualidade como uma autêntica dimensão de cada um de nós.

Deste modo, ela se torna um elemento considerável de nossa percepção e expressão pessoal ou coletiva, na construção de sentido do que nos acontece.

Por isso, nosso modo de sentir e lidar com o sofrimento mental é afetado pelas crenças espirituais e religiosas que cultivamos. 

Quando sadias, elas podem direcionar nossa integralidade, influenciando-nos psicodinâmicamente.

Ou seja, nos auxilia  na lida com a ansiedade, medos, frustrações, raiva, sentimentos de inferioridade, desânimo e isolamento, bem como

prevenindo doenças mentais 

Mas, quando carregadas de culpas e medo, estas crenças podem contribuir para a formação de um espírito débil resignado na gente, sendo mais um fator de sofrimento e prejuízo para nossa saúde.

Por tanto, devido a esta forte influência no nosso modo de ser e estar no mundo, a religiosidade/espiritualidade não pode ser ignorada pelas práticas terapêuticas dos profissionais de saúde. uma vez que, qualquer visão do mistério que constitui o ser humano, por mais competentes e lúcidas que sejam, não serão completas se não acolherem sua dimensão espiritual.

Livre,

Leve,

Voe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verified by MonsterInsights