A meditação é uma prática milenar que existe em diversas tradições religiosas e culturais.
Basicamente, ela consiste em dedicar um tempo para se concentrar, silenciar a mente e entrar em contato com o sagrado, seja ele chamado de Deus, Buda, Alá, Brahman ou outro nome. A meditação pode trazer diversos benefícios para a saúde física, mental e emocional, como reduzir o estresse, melhorar o humor, aumentar a imunidade, entre outros.
Mas como meditar de forma cristã?
Como integrar a meditação com a fé, a Bíblia, a liturgia e a comunidade?
Como fazer da meditação um hábito diário e uma fonte de transformação espiritual?
Essas são algumas das questões que o livro Meditação Cristã, de John Main, busca responder.
Neste artigo, vamos conhecer um pouco mais sobre o autor, o contexto e a obra desse livro, que é considerado um clássico da espiritualidade cristã contemporânea. E, portanto, um caminho para quem quer dar os primeiros passos nesta tradição.
Quem foi John Main e a redescorberta da meditação cristã
John Main foi um monge beneditino, nascido na Irlanda em 1926 e falecido em Montreal, no Canadá, em 1982.
Ele é considerado um dos principais responsáveis pela redescoberta e difusão da meditação cristã no século XX, fundando a Comunidade Mundial para Meditação Cristã (WCCM, na sigla em inglês), que hoje conta com milhares de membros em mais de cem países.
A trajetória de John Main foi marcada por uma busca incessante pelo sentido da vida e pela experiência de Deus.
Ele estudou direito e serviu no exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial. Depois, trabalhou como diplomata na Malásia, onde conheceu um mestre hindu que lhe ensinou a meditar usando um mantra, uma palavra sagrada que é repetida mentalmente para facilitar a concentração e o silêncio interior.
Ao voltar para a Europa, John Main decidiu se tornar monge e ingressou na Ordem de São Bento, na Inglaterra.
Com os beneditinos, ele descobriu que a prática do mantra não era estranha ao cristianismo, mas fazia parte da tradição monástica dos Padres do Deserto, os primeiros monges cristãos que viveram no Egito, no século IV. Eles usavam versículos bíblicos ou nomes de Deus como mantras, para orar sem cessar, conforme o ensinamento de São Paulo (1 Tessalonicenses 5:17).
John Main, então, retomou a sua prática da meditação, e começou a ensiná-la aos seus alunos, colegas e visitantes. Ele percebeu que a meditação era uma forma simples, universal e profunda de oração, que podia ser praticada por qualquer pessoa, de qualquer idade, cultura ou condição.
Ele também percebeu que a meditação era uma forma de se abrir à ação do Espírito Santo, que nos conduz à união com Deus e à transformação em Cristo.
“Um caminho para a plenitude”
Um dos seu principais livros, de muito sucesso, foi Meditação Cristã, publicado pela primeira vez em 1975, na Inglaterra, com o subtítulo “Um caminho para a plenitude”.
No geral, o livro diz respeito a uma série de palestras que John Main deu em um retiro espiritual, no qual ele apresentou os fundamentos teóricos e práticos da meditação cristã.
O contexto do livro foi o de uma época de grandes mudanças e desafios para a Igreja e para o mundo.
O Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, havia proposto uma renovação da vida cristã, enfatizando a importância da Bíblia, da liturgia, da ecumenismo, do diálogo inter-religioso e da opção pelos pobres. Ao mesmo tempo, o mundo enfrentava crises políticas, sociais, econômicas e ecológicas, que exigiam uma resposta ética e espiritual dos cristãos.
Nesse cenário, John Main ofereceu a meditação cristã como um caminho para a plenitude, ou seja, para a realização do potencial humano de comunhão com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a criação.
Ele mostrou que a meditação não era uma fuga da realidade, mas uma forma de se engajar nela, com mais lucidez, compaixão e esperança. Ele também mostrou que a meditação não era uma novidade, mas uma tradição antiga e fiel, que precisava ser redescoberta e revitalizada.
Atiçando o desejo pelo livro
O livro Meditação Cristã é dividido em duas partes:
- a primeira, chamada “A Tradição”, explica o que é a meditação cristã, qual é a sua origem, qual é o seu objetivo e qual é o seu método;
- a segunda, chamada “A Prática”, oferece orientações práticas para quem quer começar ou aprofundar a sua prática da meditação cristã, abordando temas como o tempo, o lugar, a postura, o mantra, a disciplina, a fidelidade, a comunidade e a integração.
Segundo John Main, a meditação cristã é uma forma de oração contemplativa, que busca a experiência direta e pessoal de Deus, sem o uso de imagens, conceitos, raciocínios ou sentimentos. Assim, está baseada na fé, na simplicidade e no silêncio, seguindo o ensinamento de Jesus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo” .
A origem da meditação cristã, conforme fala o autor mencionado, está na tradição monástica dos Padres do Deserto, que foram os primeiros a ensinar e praticar a oração do coração, usando versículos bíblicos ou nomes de Deus como mantras.
Essa tradição foi transmitida ao longo dos séculos por diversos mestres espirituais, como São João Cassiano, São Bento, São João Clímaco, São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, entre outros.
O objetivo da meditação cristã é, para Main, a união com Deus, que é o fim último da vida humana e da vocação cristã.
Pela sua prática somos levados a um estado de consciência e de amor, no qual nos tornamos um com Deus, que é amor (1 João 4:16). A meditação também nos leva a uma transformação em Cristo, que é a imagem de Deus (2 Coríntios 3:18). A meditação, portanto, é um caminho de santidade e de felicidade.
O método da meditação cristã, segundo John Main, é simples e acessível.
Ele consiste em:
- sentar-se com a coluna ereta,
- fechar os olhos levemente,
- respirar calmamente e repetir mentalmente um mantra, que pode ser a palavra “Maranatha”, que significa “Vem, Senhor” em aramaico, a língua que Jesus falava. O mantra deve ser dito em quatro sílabas, sem acento ou ênfase, e sem associá-lo a nenhum significado ou imagem. O mantra deve ser dito continuamente, do início ao fim da meditação, que deve durar entre 20 e 30 minutos, duas vezes ao dia, de manhã e à noite.
Um guia prático para os primeiros passos na jornada da meditação cristã
O livro Meditação Cristã, de John Main, constitui, pois, um guia prático para a vivência da oração contemplativa, que nos ensina a meditar de forma cristã, seguindo uma tradição antiga e fiel, que nos conduz à união com Deus e à transformação em Cristo.
O livro é uma obra de referência para quem quer conhecer, iniciar ou aprofundar a sua prática da meditação cristã, que é uma forma simples, universal e profunda de oração, que pode ser praticada por qualquer pessoa, de qualquer idade, cultura ou condição.
Livre,
Leve,
Voe!