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Adiferença que faz a diferença? 

“A  vida só é possível quando inventada” Cecília Meireles

Escrito por: @autopoesys-com

Em todas as épocas as possibilidades e razões que o ser humano encontra para ser e se desenvolver enquanto pessoa, contracenam com os episódios de crise e desafios profundos, que por vezes rondam o cenário da nossa existência. Inundando nosso coração, a um só tempo, de alegrias e esperanças, tristezas e angústias.

 Importa, portanto, conversar sobre nossa vida nos seus processos de descoberta do que nos mantém firmes e destemidos em meio aos desassossegos que, frenquetemente, atentam contra nosso inalienável direito de habitar este universo. 

Existe algo, que ao longo da ciranda infinita de sucessões de gerações tornou-se a pedra angular sobre a qual aqueles que sobrevivem sustentam seus pés…

Mas antes de explorarmos os meandros desse “segredo” único e universal, que, ao contrário do que podemos imaginar, não consiste num privilégio de sábios e gurus –  está ao nosso alcance, 

temos que  lançar um olhar sincero sobre as ambiguidades que assombram nosso existir.

Contradições do nosso admirável mundo novo

Para não alongarmos muito nesta prosa, vamos direcionar o nosso olhar para os tempos que agora nos convoca e provoca à existência…

Sabemos que a sociedade moderna tem por mérito o esforço incrível por provocar e realizar os desejos mais ardentes da alma humana. Neste sentido, com uma ciência e técnica altamente desenvolvidas, produz muitos benefícios que possam saciar as fomes e sedes do nosso corpo:

  • Para nosso desejo de saúde e vida eterna, foi nos brindado uma medicina extremamente avançada (ainda que restrita a poucos), equipada com recursos potentes,  capazes de nos garantir uma vida longa;
  • Para nossa necessidade de estarmos juntos, temos o surgimento das mídias sociais que, através de aparelhos decodificadores de impulsos eletromagnéticos, rompem com as fronteiras que nos distanciava, tornando-nos onipresentes no mundo ;
  • Como antídoto para o tédio nosso de cada dia, somos inundados com uma enxurrada de opções de programas, jogos e atividades de entretenimento e diversão;
  • E para satisfazer o nosso desejo básico e universal por felicidade, somos inseridos numa cultura de consumo sustentada pelo vigente sistema capitalista, onde o mercado assume o status de religião e o dinheiro de divindade.

Porém, estes benefícios da vida moderna albergam em si também suas ambiguidades. 

Por sermos, como nos lembrava o pensador francês Pascal, seres infinitos num mundo finito, as nossas conquistas do nosso admirável mundo novo não dão conta do poço infindável de nossos desejos. 

Por isso, mesmo em meio a elas temos que lidar com profundos desconcertos na alma:

  • Vivemos mais sim, pelas dádivas da medicina moderna, mas não significa que vivemos melhor;
  • Podemos ter um milhão de amigos e estarmos mais próximos, através das mídias e tecnologias atuais de informação e comunicação, mas nunca estivemos tão sós e indiferentes a tudo e todos ;
  • Quanto mais nos divertimos e nos entretemos, mais enfastiados e cansados ficamos;
  • Algo de errado acontece com nossa felicidade, como nos dizia Zygmunt Baumann, pois somos cada vez mais uma sociedade angustiada e deprimida .

Contudo, assim como agora, todas as gerações tiveram que enfrentar grandes desafios em prol da perpetuação da espécie humana. 

Para nossos ancestrais mais antigos, o perigo vinha de uma ameaça direta e iminente, para depois evoluir em regimes de opressões imperiais e guerras. Atualmente, somos confrontados por outras questões que nos fere além do corpo, a alma e o espírito.

Uma pergunta que atropela a nossa mente

Então, diante deste negócio perigoso que é a nossa vida, como diria Guimarães Rosa, a pergunta que atropela nossos neurônios e provoca palpitações em nosso peito, talvez seja: 

o que nos torna capazes de superar as ameaças que atentam contra nossa vida e conseguirmos nos imortalizar no tempo?

Ou, em termos mais poético e filosófico:

 qual é o “segredo” para se ter uma vida  com sentido em meio as aventuras e desventuras travessia da existência?

“A vida só é possível quando reinventada”…

A diferença que faz toda diferença  entre as pessoas  que se desesperam ante ao caos da existência e as que fazem do caos uma fonte de inspiração e provocação para gerar em si – e no universo – uma estrela dançante, está sobretudo em:

NOSSA CAPACIDADE DE REINVENTAR A VIDA.

É certo que Charle Darwin bem entendeu que a sobrevivência das espécies está nas mãos dos mais fortes. Porém, podemos dizer que esta fortaleza não se expressa tanto no nosso tônico muscular ou inteligência cognitiva, mas sobretudo na nossa capacidade de nos adaptarmos às mudanças.

E o que significa concretamente poder nos adaptarmos melhor às mudanças do tempo e do espaço de nossas vidas?

Adaptar implica no modo como percebemos a biodança de nossa existência com suas  graças e absurdos, adotando duas posturas decisivas a este respeito: 

  • A determinista que diz que tudo tem que ser do jeito que é; diante dos fatos e circunstâncias só nos cabe a resignação e acomodação medíocre;
  • E a da  última das liberdades  de que nos fala Victor Frankl, de escolher qual atitude tomar em quaisquer circunstâncias, para decidir o nosso próprio caminho.

A primeira opção  diz respeito àquelas pessoas que passam pela vida como passageiros e não condutores dos rumos de sua história. 

Sempre à margem da própria vida: de suas emoções, sentimentos e sonhos, tornam-se uma cópia de si mesmos ou dos outros.

Já o segundo caminho é o das pessoas que, assumindo a responsabilidade que a liberdade de escolher os rumos da existência lhes trazem , ousam ser protagonistas da própria história. 

Por isso, como fala Leo Fraiman , se não podem escolher o que viver,  podem escolher como viver, pela força da arte, da espiritualidade e do amor, a aventura do viver.

“Viver não é preciso…”

Reinventar a vida, para podermos passar pelo caos da existência com mais coragem e elegância, não é só uma sentença poética e filosófica. É também um imperativo da própria existência.

Para os biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela, somos sistemas abertos, cuja característica decisiva é a autopoiesis:   ou seja, a capacidade de nos renovarmos continuamente e de regular esse processo, através da interação com nosso meio, de modo a manter a integridade de nossas estruturas. 

Somente assim, entregues e impulsionados por este processo de autopoiesis, poderemos evoluir  e prosperar pela existência a fora.

Neste sentido tinha razão Eric Fromm, ao dizer que o nascimento de cada um de nós não é um ato único, mas sim um processo e por isso:

 “viver é nascer a cada instante (…) a morte acontece quando o nascimento para (…) o drama: a maior parte de nós morre antes mesmo de nascer (…) ou chega a certo ponto e deixa de nascer”

Por isso, pegando carona numa fala de Fernando Pessoa, podemos parar por hora com esta prosa, dizendo que:

Viver não é preciso, reinventar-se é preciso…

Livre,

Leve,

Voe!

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