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Carnaval, uma festa da alegria subversiva

Escrito por: @autopoesys

Carnaval,

                   depois da pandemia este já é o segundo ou terceiro ano ( minha memória ainda está em ritmo de folia, por isso, com pouco juízo dos fatos rs rs rs), que temos a oportunidade de pular o carnaval.

Gosto do carnaval!

Quero escrever, pois, algumas linhas sobre o que penso a respeito…

Tem gente que nestes tempos de folia, procura fugir e ir para um recanto onde possa se entregar a uma experiência de silêncio e contemplação, fazendo algum retiro espiritual

Eu respeito, afinal, cada um sabe das dores e delícias que compõem o próprio ser.

Particularmente, apesar de ser dado mais às quietudes do coração e, por isso, gostar também de retiros, prefiro, nestes tempos de folia, rezar com os pés, pulando o carnaval (no meu ritmo)

A propósito, lembro-me, dos retiros de carnaval que era obrigado a fazer, quando estudava no seminário de Mariana.

Era curioso o fato de que, mesmo os padres nos levando para um lugar distante e bem no meio do nada,  a fazenda do Caraça, eles não conseguiam exorcizar de nós (bom! pelo menos de alguns) o espírito do carnaval; ele ia conosco para o meio do mato.

E o que acontecia eram retiros espirituais regados a

  • conversas furtivas pelos corredores e quartos da fazenda,
  • jogos de baralho escondidos madrugada afora,
  • piadas profanas em encontros secretos,
  • vontades homicidas (de matar quem tinha nos enfurnado naquele lugar tedioso) e…
  • orações fervorosas, é claro!

Saudades a parte, reafirmo que gosto do carnaval. 

Não só por ser uma festa típica da nossa cultura tupiniquim, cujas raízes remonta às festas da antiguidade e da era medieval, mas porque ela nos lembra da grande vocação a qual todos somos chamados, quando pulamos pro lado de cá da vida: a alegria ou prazer de viver. 

Quando falo de alegria de viver, sei que posso provocar a ira precipitada dos politicamente incorretos com seus discursos sobre a ditadura da felicidade, dos dias atuais. 

Mas já adianto, concordo que não dá pra gente ficar arreganhando os dentes para todos e tudo a todo momento. Pois, como bem canta Frejat,  rir de tudo pode ser máscara para nossos  desesperos.

Também sei que não dá pra brincar do jogo do contente a todo instante, como queria Poliana de Elenor H. Poter. Por vezes, a dor não pode ser ignorada, precisa ser acolhida para ser redimida.

Afinal, somos seres humanos, cujos corações, com seus mistérios escondidos, por vezes bate no compasso da alegria, por vez, da dor, ou até mesmo, nos dois, simultaneamente. 

Então… quando falo de alegria de viver a vida, como a grande virtude que o carnaval desperta em nós, falo daquela felicidade rara de Rubem Alves e Guimarães Rosa, ou, felicidade clandestina, de Clarice Lispector.

Que, conforme Epicuro, é medida pela temperança na fruição dos prazeres desta vida, e forjada no cadinho das boas virtudes. E para Jesus, seu sentido maior está em viver a doação do amor, em cada gesto nosso do cotidiano.

E além disso, a alegria do carnaval tem sabor picante de subversão. 

Não sei se você sabe, mas segundo alguns estudiosos a origem da palavra carnaval vem do latim – carnem levare ou carnis levale. Significa abster-se, afastar-se da carne

Isso porque, a partir da era medieval, o carnaval tornou-se  no período que antecedia a quaresma, quando os cristãos praticavam a abstinência de carne e outros prazeres.

Deste modo, o carnaval era uma forma de se despedir do corpo, de se entregar aos excessos e às transgressões, antes de iniciar um tempo de penitência e reflexão.

Talvez, por isso, é que para muitos, sobretudo os que querem manter a ordem e a disciplina dos corpos, mentes e espírito das pessoas, o carnaval é uma festa perigosa e pecaminosa.

Afinal, ele é uma festa da alegria de viver a vida que pulsa em nós, em que os valores das normas sociais são invertidos ou questionados, e em que cada um de nós podemos expressar nossas identidades e desejos de forma mais livre, leve e criativa.

Neste sentido, também comprendia Dom Helder Camara, pois, para ele, o carnaval

“ é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que na quarta-feira a luta recomeça, mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”

Livre,

Leve,

Voe!

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